17/01/2014

O "Pogresso" do Carlismo

Essa foto é da praça da Sé em Salvador na década de 1980.
Percebam os pontos de ônibus da população que trabalhava na região do comércio, centro histórico pegava sua condução. Percebam as diversas árvores e circulação de pessoas.
Na gestão do então prefeito Imbassahy, essa praça foi reformulada para atender os interesses do "pogresso" turístico da região. O Pelourinho tornou-se naquele momento praticamente um shopping center a céu aberto (com direito às primeiras repressões de "rolezinho") para turistas e a praça da Sé, final de linha de diversos ônibus de diferentes pontos da cidade, não era interessante para aquele projeto. Fizeram uma outra praça e em nome daquele projeto, tiraram essas árvores que vocês estão vendo na foto, além dos pontos de ônibus e o fluxo popular do Centro Histórico.
No lugar, uma praça sem vida, sem árvores, um mero local de passagem para o Pelourinho.
Em 1998, ainda na construção da nova praça, foram descobertos objetos como adornos corporais, cerâmicas que identificam dados importantes sobre os antigos moradores da cidade, etc. Foi feito um plano de intervenção arqueológico na praça, recuperando diversos achados. Porém, o que vemos hoje dos quatro sítios arqueológicos localizados na praça, é um completo abandono da prefeitura do Salvador, que tenta uma pequena reforma no local, apenas para troca do piso.
As árvores retiradas no processo de reformulação (que hoje também estão sendo retiradas em vários pontos da Barra, Nazaré, Graça, Ribeira), foram substituídas após críticas ferrenhas no momento da sua reinauguração no final da década de 1990 sem nenhuma arborização.
A população de Salvador ainda pena para ir ou voltar do Centro histórico após a retirada dos pontos de ônibus da praça da Sé. Quem vai para algum show no Pelourinho corre o risco de não encontrar transporte no final das apresentações. O Plano Inclinado da região está quebrado há anos. O elevador Lacerda que antes funcionava 24 horas, hoje só funciona até as 23h. Os ônibus atendem a população até as 23:30 "em momentos de sorte" para poucas opções de itinerário ou na Baixa dos Sapateiros, ou após a Rua Chile, em local distante das praças de shows, fazendo com que a população ande por locais escuros e inseguros até chegar ao ponto.
Fica o saudosismo da foto de uma Salvador popular, verde e extremamente cultural. Mas é aquele saudosismo que nos empurra pra frente, pra continuar fazendo o futuro e na expectativa de abrir os olhos daqueles que pensam que o "pogresso" é só dinheiro.

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