Pesquisadores da Universidade Federal da
Bahia confirmaram, no dia 1º de março, que se trata de artefatos
indígenas
Por Cimi Regional Leste - Equipe Itabuna
No final do mês de janeiro de 2011, um grupo de
indígenas Pataxó Hã-Hã-Hãe encontrou uma urna funerária e várias cerâmicas
antigas na área retomada que fica na região de Água Vermelha, município de Pau
Brasil, sul da Bahia. Os indígenas aravam a terra para plantar uma roça de
feijão e milho, quando começaram a aparecer vários pedaços de cerâmicas, algumas
com detalhes e depois acabaram encontrando um pote, enterrado aproximadamente
1,5 m no chão.
De acordo com o indígena Sinhozinho Pataxó, coordenador
do grupo de roça, eles só perceberam a importância do achado quando um índio
escutou o barulho de algo se trincando e, ao se aproximar do objeto, veio a
surpresa do grande pote enterrado. “Ao observar mais de perto, percebemos que
dentro do pote havia ossos, continuamos o trabalho em outro local próximo e
foram encontrados mais dois potes. Decidimos então informar as nossas lideranças
sobre o achado!”, relatou.
Assustados, os indígenas entraram em contato com uma
equipe do Cimi em Itabuna que, de imediato, aproveitando a presença da
antropóloga Patrícia Navarro na região, convidou-a para ir ao local. Ao
chegarem, constataram que se tratavam realmente de urnas funerárias, ainda
contendo ossos. A comunidade isolou a área e parou o plantio no local. A equipe
do Cimi tirou fotos e enviou a especialistas, que através das fotos, acreditaram
ser aquela área um provável e antigo cemitério indígena.
Pesquisadores
No dia 1º de março, uma equipe de pesquisadores esteve
na área em questão para analisar as urnas e os achados da comunidade. A equipe é
coordenada pelo professor Carlos Etchevarne, que é argentino, mas mora desde
1985 em Salvador. Professor e pesquisador do Departamento de Antropologia da
UFBA, Carlos é mestre em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP),
Doutor em Pré-História pelo Museu de História Natural de Paris e PhD pelo
Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, em Portugal. Desde 1998,
vem estudando as pinturas rupestres na Bahia. Forma também a equipe a professora
Maria do Rosário, que é Doutora em Ciência Social (Antropologia Social) pela
Universidade de São Paulo. Professora da Universidade Federal da Bahia -
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas no Departamento de Antropologia e
Etnologia. É Vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da
UFBA e atual presidente da Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAí- BA).
Desde o início da década de 1990 é Coordenadora do Programa de Pesquisas Sobre
Povos Indígenas do Nordeste Brasileiro (PINEB).
No local, a equipe de pesquisadores foi recebida por uma grande quantidade de membros da comunidade, anciões, crianças e professores do colégio da aldeia que foram liberados para ir ao local e lideranças do povo Pataxó Hã-Hã-Hãe.
O professor Etchevarne, confirmou a descoberta dos
Pataxó Hã-Hã-Hãe. “Ficamos impressionados com os detalhes das cerâmicas,
principalmente as conhecidas como ‘casco de tatu’ devido a sua semelhança como o
casco do referido animal”, destacou Etchevarne.
Segundo o professor, o material precisará ser levado a
Salvador para uma pesquisa mais detalhada, mas a princípio, pelos seus
conhecimentos, trata-se mesmo de artefatos indígenas, não sendo possível ainda
definir a que povo pertence e a data exata dos objetos encontrados. A pesquisa
em Salvador, com uma técnica conhecida como “Carbono 14”, poderá dar estes
elementos.
Perguntado sobre o significado desta descoberta para os
Pataxó Hã-Hã-Hãe, Fábio Titiah, liderança jovem do povo destacou que a verdade
se revelou. “Para nós índios Pataxó significa que o que os fazendeiros quiseram
esconder da justiça veio a se revelar, após tomarmos posse de parte de nossa
terra. É uma grande prova que essa terra é realmente nossa. Era aqui que os
nossos ancestrais viviam felizes, e cuidavam de seus espíritos. Em outras
regiões da nossa aldeia também foram encontrados esses cacos, o que nos faz
compreender o quanto era grande a nossa aldeia, que grande parte de nosso povo
foi exterminado e sua terra roubada. Acreditamos que, após a justiça conferir
esses fatos, não há como julgar errada a ação de nossa terra que tramita no
Supremo Tribunal Federal”.
Sem dúvida nenhuma, esta é uma grande vitória não só para o povo Pataxó Hã-Hã-Hãe, mas para todos os povos indígenas desta região, que até nos dia hoje sofrem acusações difamatórias que afirmam que nunca existiu índio naquela região.
Fonte: Cimi Regional Leste - Equipe Itabuna
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