17/09/2013

10 anos de Gerônimo na Escadaria


Quando o cantor e compositor Gerônimo começou seus ensaios no largo de Santana (Dinha), a música festiva da Bahia começava a sofrer transformações preocupantes. O processo de elitização e segregação que hoje traz prejuízo ao carnaval baiano, marcou também parte da produção musical feita no Estado. Nessa conjuntura já não importava a música em si, mas a aparência, a grife vestida pelo “artista”, a neutralização do sotaque para ser aceito no eixo sul/sudeste, uma música mais pop e menos “exótica” (assim diziam alguns) e o quanto poderia vender naquele momento, mesmo que no verão posterior esquecessem seu rosto e sua música. Ali estava coroada a mão pesada do grande empresariado nos interesses da música feita por estas terras. Os músicos já não tinham tanta liberdade para fazer seu trabalho sem que isso passasse pelos filtros da visão acanhada do mercado.
Isto gerou uma música feita para apenas um segmento da sociedade, uma classe média da cidade, que em porcentagem corresponde a no máximo 15%. Quase não havia mais grandes shows na praça, no farol, ou qualquer espaço público. As bandas do chamado movimento axé restringiram-se à apenas espaços privados e as antigas bandas e artistas acompanharam o processo. O resultado foi uma música sem identidade com o grande público e com a cultura da cidade. O Axé se distanciou do povo, com raras exceções, a música produzida nesse tempo não reproduzia a identidade musical da nossa terra. O gênero pagode tomou conta dos bairros populares e virou a válvula de escape para muitos músicos que em consequência das mudanças impostas, já não conseguiam se inserir no mercado por via dos outros gêneros tocados nas festas de rua da cidade. Esta sim, embora com discutível qualidade, representa ao seu modo uma parte expressiva da cidade, assim como representa o samba-reggae dos blocos afro largados para escanteio pelas rádios e grande mídia.

Gerônimo começou seu projeto nesta conjuntura.  Sua música seguiu em meio a essa tempestade. O Rio Vermelho nos dias de terça já não era o mesmo. Praça lotada e a música era pra todxs; ricos, pobres, negros, brancos, comunistas, capitalistas. A música oriunda dos ritmos caribenhos unida à musicalidade vindas das religiões de matriz africana, misturado com o cheiro dos quitutes da baiana famosa e ao cheiro do mar da pequena enseada ao lado, era a Salvador que faltava na música produzida pelo mercado.

O projeto mudou-se para as escadarias da Igreja do Paço (o nome seria por causa de Paço de Souza?) situado no Centro Histórico da cidade. A “fórmula”, a mesma. Uma música sem as amarras do mercado, vinda dos jeitos de ser do povo da Bahia, tocada gratuitamente proporcionando encontros de grandes músicos no palco, mas também das diferentes classes sociais que lotam todas as terças-feiras a escadaria da famosa igreja que serviu de cenário para o filme O Pagador de Promessas. Uma música includente, que não separa, une.
Por estes motivos, Gerônimo tem uma importância muito grande para a cultura de nossa terra. Importância pouco dada pelos governos municipal e estadual. Há 10 anos, sem nenhum apoio, o artista produz um dos maiores eventos gratuitos na cidade. Os poderes públicos com isso apenas reproduzem uma lógica míope da mídia e do mercado, tapando os olhos para uma Bahia que se perde em meio à força hegemônica geradora de um vazio identitário de desmedidas conseqüências. 
Que a força dos afoxés, blocos afro, sambas-de-roda, músicas e artistas populares possam mudar os rumos da música. Numa terra onde tudo brota, do arrocha ao jazz, do blue ao pagode, não oportunizar quem eterniza nossas formas de ser, é ruim da cabeça ou doente do pé.

Viva os 10 anos de Gerônimo!

Fernando Monteiro
 
Link para matéria do jornal Atarde

3 comentários:

Unknown disse...

Gerônimo é tudo de bom!!
e esse trabalho da escadaria é muito lindo!!
um trabalho que nesses longos anos o mesmo vem bancando sozinho,sem contar de nenhuma ajuda do poder publico,
mas deveria ajudar e muito!!!

vamos lá galera,vamos nos 10 anos de escadaria com Gerônimo e seus convidados!!!!

ass, Zé Honório

Unknown disse...

Boa sorte Gerônimo!
que venham mais 10 anos

Unknown disse...

SALVADOR DEVERIA TER UNS 10 FERNANDOS P/ MELHORAR,FALAR E GRITAR BEM ALTO QUE TÁ TUDO ERRADO!!!!