14/09/2013

Rock in Rio 2013



Não quero me ater à discussão de hegemonia dos grandes grupos empresariais da indústria do entretenimento. Quero falar sobre concepção. Eu acho acertada a decisão de mudar os rumos de um festival de música como o Rock in Rio para algo que contemple outros gêneros musicais. 
Quando aconteceu o primeiro Rock in Rio em 1985, este gênero musical monopolizava o país e o mundo. A música e o mercado cultural nunca mais havia sido o mesmo desde os meninos de Liverpool e a indústria musical, hegemonizada pelos Estados Unidos, tratou de difundi-la aos quatro cantos do mundo.
 No Brasil de 1985, findava-se a ditadura militar e o Brasil transbordava de cultura norte-americana por todos os lados. A ditadura havia nos levado a um colonialismo cultural que nos condicionavam a meros reprodutores da cultura do norte da América capitalista. Embora não tenha sido fruto direto deste contexto, mas sim de um conjunto de fatores, o rock “nacional” era a bola da vez e parecia que aquele momento nunca fosse passar.  O rock “nacional” era a bola da vez e parecia que aquele momento nunca ia passar. Trouxe-nos curiosamente porta-vozes da liberdade, que recomeçava naquele ano pós-ditadura.  Foram muitos os belos frutos deste movimento musical. Tornaram-se referência para uma juventude, ou melhor, gerações. Mas naquele momento queríamos ver Ozzy Osbourne, Queen, Iron Maiden e tantos outros quanto poderíamos ver. Um empresário entendeu este momento e assim o Rock in Rio foi um sucesso.

O contexto de hoje é completamente diferente. O mercado da música sofreu grandes mudanças para o bem e para o mal. O Rock in Rio não é mais um festival somente de rock, é um festival de música. As atrações nunca agradarão a todxs, nem quando era só rock e suas diversas variações tinha unanimidade. Eu fico muito feliz de ver Angelique kidjo, Maria Rita, Lenine, Moraes Moreira, Skank , Ivo Meireles e tantos outros num festival como este.
A questão então seria coerência e uma possível mudança de nome? A marca Rock in Rio já está na história do show business mundial, carrega grande força de marketing e um bom empresário não a desperdiçaria.

Contudo, penso que um festival deste porte no Brasil de 2013 pode nos trazer algumas reflexões. Em tempos de multidão virtual, sociedade individualista de massa, hedonismo cultural, velocidade de informações, fragmentações ideológicas, digitalização da realidade (?) e globarbarização (como diria Tom Zé) sobretudo cultural, ouvir as diferenças, respeitá-las como são é o melhor que podemos fazer por um mundo menos monotemático e mais livre. A música pode nos dar essa lição, como uma flor, que você observa, feia ou bonita, mas a deixa sem arrancá-la. Ela ficará lá e pode encantar outras pessoas, ou não.

Fernando Monteiro

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